quarta-feira, 26 de maio de 2010

Como a Bíblia chegou até mim?



Embora a tradução bíblica seja algo que se expandiu muito no século XX, teve seu início nos primeiros séculos da era Cristã. A Bíblia então foi traduzida primeiramente para as línguas, Siríaca, Georgina, Cóptica, gótica, Eslava e Latina. Em meados do século XV já havia aproximadamente 30 tradução.
Com renascença e a reforma a tradução bíblica ganhou força e já no início do século XIX existiam outras 34 traduções completas da Bíblia.
Com o movimento missionário moderno mudou-se a forma de pensar. Agora as traduções não eram feitas somente pelos eruditos e estudiosos. Passa-se a ser feita por pessoas comuns e com isso existe um grande crescimento de traduções de tal maneira que no século XIX surgiram 500 novas traduções.
O século XIX é tido como o “Grande Século”, mas somente no século XX que o trabalho de tradução passa a ser estudado com a ciência da lingüística.
São criadas Associações com o fim de capacitar melhor às pessoas que estivessem interessadas à tradução bíblica! Nessas Associações os alunos aprendiam até mesmo a criar novos alfabetos com o fim de traduzir a Bíblia para povos que nem mesmo escrita possuía.
É detectado um problema: Por mais que as Associações de tradução se empenhassem os tradutores entenderam que existem termos que para serem traduzidos necessitam de um valor cultural, e sendo assim os tradutores precisariam se envolver completamente com a cultura do povo, e depois então de muita afinidade com a cultura ele começaria o seu trabalho de tradução! Por exemplo: “Eu sou a videira, e meu Pai é o agricultor”, como explicar sobre a agricultura para um esquimó? Ou então “Eu sou o pão da vida” sendo que em muitos países o pão é algo totalmente desconhecido? Conclui-se então que o tradutor deveria encontrar termos que melhor se aplicam ao termo original, mesmo que o termo para outras pessoas, de outras culturas, não fizesse o menor sentido!
Com a chegada da tecnologia é claro que houve um forte avanço nas traduções, mesmo assim ainda há muito trabalho. Hoje existem mais de 5.000 línguas faladas no mundo, e a Bíblia só foi traduzida para 1/3 dessa população, sendo que grande parte desta porcentagem tem apenas o Novo Testamento traduzido!
Muitos trabalham duro nas Associações, e a cada ano surgem no máximo 30 novas traduções bíblicas, ou seja, vamos precisar de aproximadamente 120 anos para que o mundo tenha a Bíblia em sua própria língua!
William Cameron Townsend nasceu na Califórnia em 1896 e morreu em 1982. Nasceu em um berço presbiteriano e estudou na faculdade Presbiteriana de Los Angeles. Quando o assunto é tradução e lingüística é impossível não falar dele, pois ele é o grande impulsor na tradução bíblica. Seu reconhecimento é indiscutível tanto que é chamado por Bill Grahan de “o maior missionário de nossa era”. Willian é o Fundador da Associação Wycliffe para Tradução Bíblica, e do Instituto lingüístico de verão.
Enquanto estudava na faculdade se candidatou para ser vendedor de Bíblias na America Latina, e foi chamado para a Guatemala! Em 1917 quase desistiu do serviço missionário para defender seu país em guerra, mas foi chamado de covarde por uma missionária e por isso pede dispensa do exército e fica na Guatemala.
Trabalhando no meio rural ele percebe que vender Bíblias em espanhol para um povo que não lia espanhol era uma grande besteira. Um dia um índio o questionou dizendo, “Se Deus é tão esperto, porque Ele não aprendeu a nossa língua?”. Essas palavras mudaram a sua forma de pensar, e com isso dedicou 13 anos de sua vida no meio dos Cakchiquel, com o objetivo de conhecer a cultura deles e traduzir a Bíblia para a língua deles. Depois de 10 anos de muito trabalho Cam completou o Novo Testamente em Cakchiquel.
Cam tinha uma personalidade forte e lutava por seus ideais. Para ele rações doutrinárias são secundárias. Ele era a favor que Católicos e Pentecostais estudassem nas Associações para tradução de Bíblias, além de ser também favorável ao sustento de missionárias “mulheres solteiras”. Tudo isto criou um grande desconforto por parte da organização e dos patrocinadores das Associações, mesmo assim ele insistiu e eles estipularam algumas restrições para que as pessoas de outras Igrejas estudassem nas Associações.
Após 50 anos de trabalho árduo, quando todos pensavam que ele iria se aposentar, Cam preparava-se para ir a União-Soviética. Chegando lá estudava varias horas de Russo por dia, e também muito sobre a cultura daquele povo.
Sua vida é um exemplo para todos nós, e ele tinha como lema:
“O maior missionário é a Bíblia na língua-pátria. Ela jamais precisa de férias, e jamais é considerada estrangeira”.
Você já se viu sendo um tradutor da Bíblia para uma nova língua? Talvez não, mas alguma vez você já perguntou para Deus se Ele quer te usar nessa área?
Se Ele quiser, e se você for fiel e corajoso´a´ o bastante para atender a esse chamado, quando estiver concluindo a sua tradução em meio a uma tribo, lembre-se de mim no apêndice de seu livro, e faça um pequeno agradecimento, zuera, “só para quebrar o clima”. Se for isso que Deus tem para você, vá e atenda a esse chamado tão bonito e transformador na vida de muitas pessoas.
Por outro lado você pode pensar, eu sou apenas um brasileiro, e quero ser um cristão fiel aqui!
O brasileiro é um povo privilegiado! Temos a Bíblia traduzida! Temos diversas versões! Temos tudo, e por vezes escolhemos não ter nada!
Estamos em um país livre, temos a liberdade de andar com a Bíblia debaixo de nossos braços, temos a liberdade de até pregar em praça pública!
A pergunta que faço para mim e para você é:
- Idái ?
Daniel M. Coelho

terça-feira, 11 de maio de 2010

Novos pregadores para uma realidade com novos paradigmas familiares.



Alguém já disse: “a Igreja é a única instituição que se preocupa com o ontem”. Estas palavras são simples; porém, sintetizam muito bem o nosso tema.
O mundo tem experimentado nos últimos 50 anos avanços inexplicáveis nas mais diversas áreas. A busca pela melhoria de vida trouxe muitas famílias do campo para cidade, e muitas delas nunca obtiveram este grande sonho nem mesmo suas gerações, pois vivem até hoje buscando seu espaço no mercado de trabalho.
Todos estes avanços têm mudado a história da sociedade, e obviamente têm atingido também as famílias. É bom relembrar os tempos em que o pai trabalhava cerca de 8 horas por dia, sendo que entrava no trabalho às 8:00hs, trabalhava até o meio dia e voltava para a casa. Em sua casa encontrava o almoço pronto, as crianças já banhadas e arrumadas para irem ao colégio. Esse pai almoçava todos os dias em sua casa, assistia ao seu programa de televisão, brincava com seus filhos, conversava com sua esposa, e na volta ao trabalho deixava seus filhos na escola, com a promessa de que às 18:00hs voltaria para as buscar. Então, às 18:00hs lá estava ele, no portão da escola, e de longe seus filhos vinham correndo e lhe davam um forte e caloroso abraço. Assim, juntos eles iam para casa, pois a mamãe trabalhara em casa a tarde toda e por isso estava a espera com o jantar semi-pronto e com todas as roupas lavadas, passadas e dobradas dentro das gavetas.
Hoje, o pai, muitas vezes, quando sai para trabalhar seus filhos estão dormindo, e ao voltar os encontra na cama dormindo novamente. A mãe já não é mais dona de casa, pois agora ela também precisa trabalhar fora. Com isso, a educação dos filhos é terceirizada, pois ficam com os avós, tios, ajudantes, vizinhos, escolinhas, ou com quem for. O que se pode afirmar é que as crianças do século XXI estão terceirizadas, e o reflexo desta terceirização nós acompanharemos daqui há aproximadamente vinte anos.
Vivemos em uma época onde tudo é descartável. No Japão, por exemplo, se o controle remoto de uma televisão quebrar, eles a jogam fora e compram outra nova. Esta concepção do descartável logicamente afeta as famílias. Assim, hoje não é difícil encontrarmos pessoas que estão no 3º ou 4º casamento. As pessoas que se casaram até os anos 90 do século XX ainda tinham em mente que o casamento era para sempre. Segundo o IBGE, em 1984 foram feitos, no Brasil, 30.847 divórcios, já em 2007 o número chegou a 179.342. Estes números expressam muito bem o que estamos descrevendo. A partir dos anos 90 a idéia de casamento foi se alterando e hoje ela é a seguinte: “case, se não der certo, não sofra, se divorcie e busque a sua felicidade com outra pessoa”.
É neste ambiente que a igreja esta inserida. E para cumprir seu papel de igreja, ela deve ter uma mensagem relevante para as famílias do século XXI. Mensagem esta que é confiada ao pregador, sendo ele pastor ou líder da comunidade. Tudo isso deve estar bem claro na mente do pregador, que deve saber que, ao subir num púlpito, está de frente tanto com pessoas que lutam por suas famílias, quanto com aquelas que, quando vierem os dias de luta, simplesmente desmanchariam os laços matrimoniais.
O pregador deve estar atento a tais mudanças no mundo. Aliás, o tema da Reforma Protestante no século XVI nos lembra disso: “Igreja reformada, sempre reformando”. Mas ao afirmar isso, uma pergunta emerge: como o pregador consegue ter uma mensagem relevante para estas famílias que estão em constantes mudanças? Mais difícil do que a pergunta é a sua reposta. Tentarei discorrer de forma sucinta com algumas dicas para o pregador. Porém, afirmar que descreverei sobre tudo o que um pregador precisa para atingir estes novos paradigmas familiares seria muita ganância da minha parte.
O pregador, sendo velho ou novo, deve conectar-se com o que se passa no mundo. Ele é aquele que deve andar com a Bíblia em uma de suas mãos e a revista Veja na outra. É impossível ter uma mensagem relevante se estivermos alienados do mundo. Aqui já encontramos um problema, pois a maioria de líderes mais velhos tem grande dificuldade com o “novo”. A impressão que nos dá é que para estes o “novo” não vem de Deus, e por isso não deve ser considerado.
Pensar em novos paradigmas familiares significa entender que dentro de uma família encontramos duas ou mais gerações que estão muito distantes. Um pai que nasceu nos anos 60 foi ver um computador de perto quando já tinha por volta de trinta anos. Hoje, o seu filho, ao sair da barriga da mãe, está sendo filmado e com dois anos de idade já assistirá o seu nascimento em vídeo cassete, no “DVD”, ou talvez em um “laptop”.
Pregadores relevantes devem estar dispostos a dialogar com o mundo. Porém, manterem-se firmes em seus padrões bíblicos. Alguém comprometido com a Palavra de Deus deve ter sabedoria e flexibilidade na maneira do transmitir, mas a mensagem a ser transmitida não pode ser negociada.
Deus estipulou valores familiares, estipulou até mesmo questões sobre o divórcio. Cabe aos pregadores o esforço de levar uma mensagem bíblica e fiel de maneira simples e impactante a seus ouvintes. A sua tarefa referente à mensagem para as famílias deve ter sempre um teor que preze o amor familiar. Os pais devem amar seus filhos e os educarem segundo as disciplinas do Senhor, os filhos devem amar e honrar seus pais, e todo ensinamento deve se desdobrar em amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Que Deus abençoe a vida de todos os ministros da Palavra, para que sejam profetas do Senhor, tendo sempre palavras sábias e que edifiquem as famílias deste século.

Daniel Martins Coelho.

sábado, 8 de maio de 2010

A Igreja que faz Discípulos



O livro “A igreja que faz discípulos” de Bill Hull é uma excelente obra para pastores e líderes que desejam plantar uma igreja ou revitalizá-la em seu pensamento, tendo em vista uma igreja que faz discípulos.
O autor inícia seu livro fazendo uma análise do texto de Mateus 28.18-20, a grande comissão, e a partir deste texto tira questões do caráter de um discípulo e também alguns passos para um discipulado. O modelo sugerido por ele é o Eclesiocêntrico, ou seja, um modelo em que todas as pessoas, motivadas pelo amor de Cristo, com seus dons particulares são envolvidas no mesmo trabalho, o discipulado. Isso é muito bom, pois apaga a imagem de que somente os pastores e líderes são chamados para este trabalho.
Hull é muito detalhista e dentre muitas idéias que ele nos dá, uma que mais me chama a atenção está na questão do discipulado em pequenos grupos, e não de um a um, como sempre ouvi. Todas as suas idéias enfatizam o modelo Eclesiocêntrico sendo que discipulador não é um chefe ou o dono da verdade, e sim alguém que está disposto a conhecer a Deus junto com seus discípulos, pois sabe que em breve eles também serão líderes na comunidade.
A visão de que todos os membros têm o chamado para fazer discípulos levantada por Hull no decorrer do livro é ótima, porém para uma igreja histórica que tem membros que cresceu, viveu e ensinou um outro tipo de método é quase impossível de ser modificada. Mesmo assim o pastor ou líder da comunidade deve lutar com sabedoria e paciência enfatizando aos poucos que a igreja necessita de mudanças, novas estratégias para o discipulado, e também uma nova visão.
Observar a igreja primitiva como uma igreja comum que enfrentava vários problemas foi muito novo para mim, e me ajudou a entender que mesmo com esses problemas os Cristãos continuavam com o coração ardente para a missão do discipulado, e todos tinham a convicção de que fazer discípulos era uma tarefa geral. Daí se explica o crescimento desta igreja que não vivia de momentos isolados, e sim em constante discipulado. A oração e a adoração eram o centro de vida desta igreja e o reflexo disto se dá no desenvolvimento do amor ao próximo e um maior envolvimento com os perdidos. Aprendo também com esta igreja a importância de termos uma mensagem contextualizada, relevante e impactante para os ouvintes.
Ao observar a vida do Apóstolo Paulo aprendo sobre como formar uma igreja discipuladora. Paulo observava e identificava pessoas que tinham liderança e sabia como trabalhar com elas, mostrando o preço a ser pago e as alegrias de ser um discípulo. Todo líder deve ser um exemplo de vida Cristã, não que seja perfeito, mas deve mostrar que luta para viver de acordo com a vontade de Deus. Isso porque um discípulo espera de seu líder que ele viva todas as coisas que fala, ou ao menos que se esforça para isso. Esses discípulos devem chegar ao ponto denominado pelo autor de reprodução, ou seja, devem fazer o mesmo com outros discípulos. Aprendo também com Paulo que mesmo os que não serão líderes deverão desempenhar o papel de discípulo em obediência, sendo profissionais em diferenciadas áreas, porém discípulos.
Um discípulo de Jesus deve estar pronto para enfrentar o sofrimento. Hoje pouco se fala disto, porém a igreja do primeiro século enfrentava muita oposição, e respondia a elas de maneira correta e bíblica. Eles se alegravam em meios as dificuldades, pois sabiam que Deus era com Eles. Em meio as dificuldades os Cristãos devem se manter unidos, pois a desunião mata a vida da igreja.
Tentando trazer todas essas informações para a minha vida de discípulo e para a vida da minha igreja percebo que realmente estamos longe da missão de Deus, há muito o que se fazer. Hoje o evangelho pregado é totalmente outro, só se fala de bênçãos matérias, sendo que os primeiros cristãos vendiam tudo o que tinham para beneficiar o próximo. Chego à conclusão de que o evangelho pregado esta defasado, perdeu sua força, mas acredito que pode ser retomado se líderes “vestirem a camisa” e pararem de ficar com medo de perder o emprego, primeiro porque o ministério não é um emprego e sim vida, segundo porque Deus sempre ampara e cuida dos seus. Os líderes devem parar de serem neutros e de se encaixar em alguns esquemas da instituição que por vezes não é bíblico. É claro que espírito de rebeldia não nos levará a lugar nenhum, porém uma vida de comunhão com Deus e uma boa estratégia de longo prazo pode gerar frutos positivos, mesmo em igrejas centenárias.
É preciso muita sabedoria para voltarmos ao estudo da igreja primitiva e aplicar os mesmos conceitos nos dias de hoje. Líderes devem se esforçar, e também aos poucos tirar de si o centro de todas as atividades. Pensando em um modelo Presbiteriano o pastor deve primeiro enfatizar esses valores na vida dos presbíteros que são também pastores, e não empresários de igrejas. Acredito que o melhor caminho para uma mudança é começá-la em suas bases, ou seja, na liderança.
Este livro merece uma grande atenção, e com certeza é recomendável. Dentre todos os assuntos tratados por Bill Hull, que por muitas vezes é repetitivo, eu o resumo afirmando que todos os que são chamados por Deus para viver e se relacionar com Ele, são chamados para ser e fazer discípulos, sendo líderes, pastores, médicos, engenheiros, vendedores, pedreiros e etc...

Daniel M. Coelho